Antes mesmo das tradicionais redes sociais existirem, Adriana Rocha e sua irmã já usavam elementos de rede social para estreitar a relação entre marcas e consumidores
Quando se fala hoje em rede social, pensamos logo nas tradicionais que nos comunicamos, como Facebook, Twitter e Instagram. Mas antes mesmo dessas plataformas existirem, antes mesmo de conhecermos o que é hoje rede social, duas baianas já trabalhavam com elementos desse novo conceito de comunicação para estreitar a relação entre marcas e consumidores.
Formadas em ciência da computação, pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), as engenheiras Adriana Rocha e Catarina Rocha entraram em um mundo composto majoritariamente por homens e estão fazendo história no mercado de tecnologia e marketing – duas áreas em constante expansão no Brasil e no mundo.
Juntas, elas fundaram a empresa Ecglobal, em 2006, em Salvador. Hoje, além do Brasil, a empresa atua em vários países da América Latina e conta com escritórios nos EUA e no México. Quase 15 anos após a fundação, a Ecglobal possui em seu portfólio gigantes nacionais e multinacionais, de múltiplas indústrias, desde consumo massivo, a serviços financeiros e automotivo.
Neste dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, Adriana Rocha lembra como sempre vislumbrou que conquistaria sonhos que para muitos poderiam ser quase impossíveis, sobretudo pelo mercado na época ser majoritariamente composto por homens.
“A minha principal mensagem é de que nunca deixem que nada ou ninguém as façam se sentir impotentes, ou com menos valor do que outras pessoas. Nunca deixem que situações de dificuldade tirem seu equilíbrio, ou as façam desistir facilmente de seus objetivos. De uma forma, ou de outra, você vai encontrar o melhor caminho”, aconselha.
A engenheira revela que encontrou “entraves” no caminho, mas os momentos de dificuldade ajudaram a elaborar melhores estratégias a partir do aprendizado.
“É com erro e fricção que aprendemos, mudamos, crescemos. No entanto, sempre é bom estar cercado de pessoas que possam te ajudar a errar menos, que já tenham passado por situações semelhantes, e tenham o conhecimento para te orientar a tomar as melhores decisões. O mercado nos tempos atuais sem dúvidas é mais inclusivo e oferece muito mais oportunidades do que as que tínhamos há 30 anos atrás”, analisa.
Ao longo dos anos, a história de Adriana inspirou outras mulheres. O que reflete no quadro de funcionários da Ecglobal, que majoritariamente é composto por mulheres.
“Não é intencional. Talvez naturalmente atraiamos outras mulheres que se identificam com nosso propósito, história e exemplo. Somos mulheres nordestinas, e a maioria de nossa equipe está baseada em Salvador, onde somos majoritariamente pardos e negros, assim que inclusão e diversidade para nós está em nosso DNA”, acredita.
Pioneirismo em conectar marcas e consumidores
Sempre empenhada durante sua vida acadêmica, participando de projetos inovadores e ganhando bolsas de estudo, ela observou cedo a movimentação na internet e no mundo digital para conectar pessoas.
“Quando fundamos a Ecglobal, em 2006, já tínhamos a visão de que as pessoas iriam interagir no mundo digital de uma forma onde a experiência combinaria elementos de colaboração. Quando falo colaboração é de socialização, de troca de informações entre as pessoas, de poder conhecer melhor as pessoas, se comunicar de forma contínua com elas”, conta Adriana.
Com o objetivo de gerar diálogos entre marcas e consumidores, ela atuou para desenvolver uma rede social própria, a ecglobal.com, que atende empresas de todos os portes e segmentos que desejam um relacionamento contínuo com seus clientes. A plataforma permite gerar insights para que as marcas conheçam profundamente os desejos e as necessidade dos consumidores.
A partir do monitoramento, da relação de intimidade e lealdade entre os usuários, a empresa consegue ajudar as marcas a elaborarem as estratégias de maior impacto para seus clientes.
“Na época em que começamos estavam surgindo as primeiras plataformas de fórum de discussão. E como nós estamos na área de pesquisa de mercado, inteligência do consumidor, imaginávamos que fazer pesquisa seria tão natural para as pessoas como conversarem com amigos ou jogarem um game. Então, desde aquela época, incorporamos no design, na arquitetura de nossa plataforma, elementos de rede social. Isso sem conhecer as redes sociais, nem usávamos esse nome. As pessoas poderiam enviar perguntas para outras, se juntar em fóruns, avaliar produtos e marcas, podiam começar a interagir e colaborar entre si”, explica Adriana Rocha.
Tudo foi desenvolvido com o intuito de também proporcionar diversão para os usuários, por isso foram incorporados elementos de gamificação, com quizzes e desafios. Ao acompanhar as movimentações, as histórias e as opiniões dos usuários sobre as marcas, as empresárias montavam estratégias com suas equipes para passar para seus clientes.
Segundo Adriana, a ideia desde sempre foi não atuar apenas como uma empresa de pesquisa sobre o consumidor, mas que o entendesse.
“Também visualizamos esse mundo em 3D, que hoje chamam de metaverso. Logo no segundo ano que lançamos a Ecglobal, nós criamos toda uma ilha em Second Life, um mundo em 3D, onde as pessoas tinham avatar, podiam participar de grupo de discussão, até festa a gente tinha, trazendo esse componente da diversão e da socialização”, disse a co-fundadora da empresa.
E acrescentou:
“Ao mesmo tempo, a gente podia testar o protótipo de celular e participar de pesquisas. A gente criou um metaverso de pesquisa, de inteligência do consumidor, lá em 2007. São dois exemplos que ilustram como fomos pioneiros e já visualizávamos como seria esse futuro da colaboração entre pessoas e marcas para gerar essa inteligência contínua de consumo”.
Em 15 anos no ramo, um momento foi decisivo para continuar trabalhando com o que acredita: se arriscar.
“Um dos momentos marcantes em nossa história foi quando uma grande empresa global quis nos comprar, há 10 anos atrás. Apesar de ter sido uma oferta muito boa financeiramente, sentimos que não era o momento ideal, e a venda naquele momento significaria desistir de desenvolver a plataforma que fazia parte de nosso sonho de construir a Ecglobal. Uma das principais lições que ficou para nós, e que pode inspirar outras mulheres empreendedoras, ou que pensem em empreender, é de que há momentos em que é preciso correr riscos, tomar decisões difíceis, mas se você está confiante de onde pode chegar, não abra mão tão fácil dos seus sonhos”, declara.
Depois de ler todo o texto só cabe uma palavra “PARABÉNS” às engenheiras Adriana e Catarina. Há já alguns dias eu disse “as mulheres na gestão são um perigo” agora especifico “para o domínio dos homens, mais própriamente para aqueles que criaram um mundo que sempre dificultou a igualdade de géneros”. E têm razão, de facto as mulheres possuem um conjunto de atributos, que eu tive oportunidade de perceber, ao longo de mais de 55 anos de actividades políticas, académicas e empresariais, em cenários internacionais, que as colocam num patamar de resiliência e competitividade que os homens não têm, escreveria várias páginas a contar casos concretos que fundamentam a minha opinião.